sexta-feira, 22 de julho de 2011

Mães abandonam filhos por razões patológicas e sociais





Os recentes casos registrados em várias regiões do Brasil de mães que abandonaram bebês trouxe à tona a discussão sobre as razões sociais e psicológicas que podem desencadear esse tipo de atitude.
No último dia 10, Lucinda Ferreira Guimarães, de 40 anos, foi indiciada pelo crime de tentativa de homicídio cometido contra o próprio filho recém-nascido, enterrado em um buraco de tatu em Laranjeiras do Sul, no Paraná. Ela fazia tratamento de depressão e não havia tomado o medicamento. Um dia antes, no Distrito Federal, um bebê foi encontrado numa caixa de sapatos e morreu depois de ser levado de um hospital a outro. A mãe ainda não foi localizada.
Médicos apontaram as duas principais causas para esse tipo de abandono. A primeira é a depressão pós-parto, um processo bioquímico e hormonal presente no corpo da mulher e responsável por fazer com que ela perca o afeto à criança e a outras coisas comumente alegres. A segunda é a psicose puerperal. Neste caso os fatores genéticos são indicadores de que a mulher poderá, por exemplo, agir com violência demasiada contra seu bebê.
Para a situação de depressão, a mulher “passa a atentar contra a própria vida, perde a auto-estima e fica com o humor baixo”. No caso da psicose puerperal, “a mulher perde a noção da realidade e chega a pensar que a criança ou o bebê é uma ameaça contra ela”.
 “Para que uma mulher faça isso (abandonar ou matar o próprio filho), é preciso que o relacionamento social e interpessoal dela seja caracterizado pela abominação ou crítica. A sociedade não busca entender o que se passa com essa mulher, e a condena, julga”.
A questão social também foi levantada pela ginecologista obstetra do Hospital das Clínicas Ana Lúcia Cavalcanti. Para ela, a pressão da família para que a mulher seja mãe é muito grande e, em muitos casos, isso contrapõe diretamente a vontade da mulher em querer a maternidade. “Essas mulheres que abandonam ou matam suas crianças são mulheres sofridas, que vivem na pobreza e são submetidas a um relacionamento submisso”, afirma.
Segundo Ana Lúcia, a mulher tem tendência maior a ser depressiva do o homem. “A progesterona é um fator agravante, principalmente no pós-parto. Mas isso não é apenas um problema médico. Os fatores culturais são também muito fortes na formação da personalidade da mulher. Na questão da maternidade, você pode ser mãe e ser feliz, mas pode ser mãe e não ser feliz.”
Para a  ginecologista, a maternidade também é um processo burocrático. "É preciso entender, antes de tudo, a mulher como mulher e, depois, a mulher como mãe. Nada justifica um ato como esse (de violência contra um bebê), mas a sociedade impõe a mulher como mãe, sublime e um anjo, e também a coloca como uma Eva, impura. A sociedade julga antes de conhecer a pessoa. Ela passa a não ter importância suficiente sem o filho e isso não está correto.”

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